"Traição" e "decepção" são os sentimentos mais citados entre os descendentes de italianos na Argentina e no Brasil, onde vivem as maiores comunidades do país europeu do mundo, diante do decreto-lei de cidadania aprovado pela Senado no Palazzo Madama, em Roma. Uma medida que limita a possibilidade de reencontro com as próprias raízes.
Na Argentina, onde há 1,2 milhão de registros consulares registrados, estima-se que haja um potencial entre 12 e 20 milhões de descendentes afetados pelas novas disposições, enquanto no Brasil, com 30 milhões de origem italiana, dos quais cerca de 20 milhões estão no estado de São Paulo.
A medida "deteriora os laços, porque limita o ius sanguinis apenas a filhos e netos", explica à ANSA o presidente do Comitê de Italianos no Exterior (Comites) de Buenos Aires, Dario Signorini.
Segundo ele, a decepção aumenta principalmente diante do discurso proferido pela primeira-ministra [da Itália, Giorgia Meloni, no Teatro Coliseo, durante sua visita à Argentina em novembro ado, quando ela destacou o papel dos italianos no exterior, dizendo que eles são autênticos embaixadores da Itália. Na ocasião, ela afirmou que "queria compensar o período em que [os ítalo-descendentes] foram negligenciados por governos anteriores".
Mas essas palavras "certamente não estão sendo refletidas no decreto de cidadania", acrescenta Signorini.
Esta lei "é um ponto muito sensível", comenta o vice-presidente do Comites de São Paulo, Matteo Arcari.
"Há uma sensação de abandono. A maioria dos que vivem no Brasil descende de italianos que imigraram no século ado por necessidade. E embora a grande maioria não fale a língua e nunca tenha estado na Itália, há um sentimento de pertencimento indescritível, graças às tradições e à cultura transmitidas de geração em geração", disse Arcari.
Por outro lado, um estudo conduzido por Walther Bottaro, professor universitário de economia empresarial e doutorando da Universidade de São Paulo, revela que o decreto também terá impacto no consumo de produtos Made in Italy pelos nativos.
Setenta por cento dos participantes disseram que a medida impactaria negativamente suas decisões de compra: 37% planejam parar ou quase parar, e 20% planejam reduzir seu consumo pela metade. Já 87% dizem que os laços culturais e familiares com a Itália influenciam fortemente suas escolhas de consumo.
Mas talvez o dado mais curioso se deve ao fato de quem consume produtos italianos esteja propenso a reagir: entre os que gastam mais de R$ 2 mil por mês no setor, 55% querem parar ou quase parar de consumir produtos Made in Italy.
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